27 novembro 2014

Resenha #24 - Passarinha (Kathryn Erskine)

Título original: Mockingbird
Editora: Valentina
ISBN: 978-85-65859-13-4
Ano: 2013
Tradutora: Heloísa Leal
Páginas: 224







No mundo de Caitlin, tudo é preto e branco. Qualquer coisa entre um e outro dá uma baita sensação de recreio no estômago e a obriga a fazer bicho de pelúcia. É isso que seu irmão, Devon, sempre tentou explicar. Mas agora, depois do dia que a vida desmoronou, seu pai, devastado, chora muito sem saber ao certo como lidar com isso. Ela quer ajudar o pai - a si mesma e todos a sua volta - mas, sendo uma menina de dez anos de idade, autista, portadora da síndrome de Asperger, ela não sabe como captar o sentido. 







Caitlin é uma menina de dez anos e possui a síndrome de Asperger. Seu irmão Devon sempre foi seu maior porto seguro e quem lhe ensinava tudo. Entretanto, quando ele morre, em um tiroteio na sua escola, ela fica sem rumo. Devon era um menino inteligente e estava completando seu projeto para se tornar um escoteiro do nível Águia, que era fazer um armário. Quando ele morre, seu pai devastado, acaba chutando o armário e danificando-o. 

Passarinha é um livro incrivelmente tocante. Não tem como não se apaixonar pela Caitlin e sua forma de ver o mundo. Como dito na sinopse, seu mundo é em preto e branco, ela não gosta das cores pois acha confuso demais. Ela é muito literal, o que creio que é uma das características do portador da Síndrome de Asperger, ela tem dificuldades em entender metáforas e isso torna o pensamento dela simples e objetivo, mas mesmo assim, incrível. 



"Eu gosto das coisas em preto e branco. Preto e branco é mais fácil de entender. Cor demais confunde a cabeça da gente." (pg. 81)

Caitlin se refere ao dia que seu irmão morreu como "O Dia Em Que A Nossa Vida Desmoronou", ela e o pai estão sofrendo e não sabem lidar com isso. Caitlin só conta com a ajuda da orientadora da escola, a Sra. Brook, para encontrar respostas. 

Um dia, porém, ao ver uma reportagem sobre o caso do tiroteio da escola de Devon, ela escuta uma palavra "encerramento" e vai pesquisar sobre ela. Ao ler sua definição, ela descobre que é exatamente isso que ela e seu pai precisam, e terá que encontrá-lo. 

Caitlin é uma personagem extremamente inteligente e que tem uma habilidade incrível em desenhar. Seu irmão a apelidou de Scout, pois ela se parece muito com a personagem de O Sol É Para Todos, no original, To Kill a Mockingbird, filme baseado no romance homônimo de Harper Lee, que no livro está traduzido literalmente como "Matar Passarinho". O filme, que era o favorito dos irmãos, tem uma importância fundamental na história.

Em sua busca por um encerramento, Caitlin passará por várias provações. Ela terá que aprender a fazer amizades, a saber lidar com outras pessoas, ter empatia, a ajudar seu pai que está muito fechado em sua dor, aceitar que, embora cada um seja diferente, ninguém é melhor do que ninguém. Ela é uma personagem extremamente solitária, não possui amigos, não gosta que invadam seu espaço pessoal, não consegue olhar nos olhos. Dessa forma, cada lição pela qual passa é extremamente difícil, mas a medida que ela vai lidando com isso, ela vai se tornando alguém ainda mais forte do que já é.

O livro é extremamente tocante, daquele tipo que deveria ser leitura obrigatória para todos. É um livro que fala sobre superação, nos mostra como todos somos diferentes e cada um é especial a sua maneira, nos ensina a ter empatia, e nos mostra como não devemos julgar alguém devido aos atos dos seus familiares (pois um dos colegas de Caitlin tem uma ligação com o assassinato do Devon).

Dois trechos me tocaram demais, e sempre ficarão guardados na minha memória. O primeiro é de um momento que Caitlin está falando com o pai sobre a ideia que ela teve para chegar ao encerramento, e a segunda, ela está falando com a Sra. Brook sobre fazer amizades.

"Fico pensando no que Devon diria. Você tem que Trabalhar Nisso papai. Precisa tentar mesmo que seja difícil e mesmo que pense que nunca vai conseguir e tenha vontade de gritar e de se esconder e de agitar as mãos sem parar." (pg. 158)

"Faço que não. Acho que não vou gostar nada disso. Acho que vai doer. Mas talvez depois da dor eu consiga fazer uma coisa boa e forte e bonita de tudo isso. Que nem o papai falou do armário." (pg. 167)

Em certo momento da narrativa eu já consegui descobrir o que a Caitlin iria fazer para conseguir obter a sensação de encerramento, mas sério, nada é mais lindo do que as últimas cenas. Foi um final maravilhoso para um livro maravilhoso.

Confesso que no início senti um pouco de dificuldade na leitura, pois como a história é em primeira pessoa, pela visão da Caitlin, ela quase não tem pontuação, pois é o jeito que ela pensa e fala. Entretanto, em determinado momento, isso não se torna mais um empecilho. Outro diferencial do livro é que nele as falas não são definidas pelos travessões, e sim pela escrita em itálico. A Caitlin tem diferentes expressões para definir algumas sensações, como sensação de recreio no estômago e fazer bicho de pelúcia. Essa peculiaridade faz a narrativa ainda mais especial, pois conseguimos nos inserir totalmente no universo dela. 

Como sempre a editora Valentina fez um excelente trabalho (cada vez me apaixono mais por essa editora). Não encontrei erros de revisão, a tradução está excelente, e a diagramação, apesar de simples, está bastante confortável. O livro possui capítulos curtos e dá facilmente para ler em poucas horas, mas recomendo que saboreie a história. 

Termino a resenha afirmando que se todos enxergássemos o mundo com a visão da Caitlin, o mundo seria um lugar muito melhor de se viver. Também deixo um último trecho que está na nota da autora que eu acho muito importante e que resume perfeitamente bem a essência da história.


Mas de uma coisa estou certa. Se todos compreendêssemos melhor uns aos outros poderíamos fazer um grande avanço para deter a escalada da violência. Todos desejamos ser ouvidos e compreendidos. Alguns de nós se expressam melhor do que outros. Alguns de nós têm problemas sérios e que precisam ser abordados, não ignorados, custe o que custar. Economizar o dinheiro da sociedade é uma farsa se o preço dessa economia é em vidas humanas. As palavras ignorar e ignorância têm a mesma raiz. (Katheryn Erskine - pg. 223)

Espero que tenham gostado da resenha e tenha ficado claro o quanto amei esse livro, me emocionei e aprendi com ele e com a Caitlin. Esse é um livro para ser lido e relido, pois podemos sempre extrair coisas novas dele. Essa resenha faz parte do Desafio Literário Skoob 2014 com o tema de novembro: literatura infantojuvenil. 
























13 comentários:

  1. Oiee

    Ja ouvi muitos elogios a esse livro mais ainda não tive a oportunidade de ler, fiquei com vontade de ler depois da sua resenha com toda certeza, que bom que fala sobre mensagens positivas e muitas da coisas que ela vê em preto e branco são o que vemos coloridos mas não prestamos tanta atenção.

    Beijos

    www.livrosechocolatequente.com.br

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  2. Oooi Rafa!!

    Eu ainda não li esse livro, acho que ele é extremamente tocante, todas as resenhas são positivas como a sua e com esse mesmo teor. Quero ler e poder me emocionar como você, adoro quando um livro causa isso em nós.
    Sua resenha está apaixonante!


    Beijinhos,
    www.entrechocolatesemusicas.com

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  3. OI Rafa! Já tinha visto esse livro várias vezes, mas nem imaginava do que se tratava. Interessante que fale sobre a síndrome de Asperger. Quando fazia estagio em Pedagogia, tinha algumas colegas com alunos que tinham esse síndrome, e sei bem o desafio que é lidar e ajudar pessoas assim. Tentar entender e fazer o melhor por elas, e tendo que nos adaptar ao mundo delas e não o contrario. Vou com certeza anotar esse livro para uma futura leitura.

    Beijos,
    Bell
    http://contosdoguerreiro.blogspot.com/

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  4. Own <3
    Rafa, vejo todo mundo super indicar esse livro. As resenhas dele sempre são emocionantes e ainda sim eu não tomei vergonha na cara para comprar!
    Adicionei nos desejados do skoob que assim eu não esqueço que preciso comprá-lo. Falando nisso, acho que é ótimo para dar de presente no natal né?! Acho que vou aproveitar rsr

    Beijiinhos ;*
    Andressa - Blog Mais que Livros

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  5. Olá Rafa,
    esses dias eu li a resenha de um livro abordava sobre esse autismo. E confesso que fiquei muito interessada pois não li e não conheço esse autismo.
    Bom sobre o livro A Passarinha, eu gostei muito. Pois ele aborda o assunto sobre o autismo e como eles vivem, pensam e reagem, alem do extra que faz com que o leitor aprenda e se sinta sensibilizado com a historia.
    sabe quando você falou sobre final fiquei imaginando mil coisas, mas para ter a certeza preciso ler. Parabéns você conseguiu me fazer adquirir um livro a mais na minha lista.

    Beijokas Ana Zuky

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  6. Olá, Rafa!

    Li uma ou duas resenhas dessa obra e devo afirmar que estou com muita vontade de adquirir o livro, já que esse livro tem MUITO a oferecer ao seu leitor. O tema abordado é de suma importância não somente para compreendermos um pouco mais sobre a síndrome e o autismo, mas para sermos mais humanos e sabermos respeitar a individualidade de cada um.

    Um abraço,
    Sérgio H.

    www.decaranasletras.blogspot.com

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  7. Oi Raffa, tudo bem?
    Já ouvi muitos comentários sobre esse livro, então estou super animada para ler. Gosto de livros assim, que todos tem que ler e que passam uma mensagem importante, que faz com que reavaliarmos nossa vida e nossos conceitos de vida. Passarinha é um livro que com certeza vai me emocionar e espero ler logo. Sua resenha só fez eu ficar mais interessada.

    Beijos,
    Leitora Sempre

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  8. Oi, Rafa
    Que resenha linda é essa? O livro entrou para a minha lista de desejados com toda a certeza! Aceito presente (indiretas mode on :3 HAUSHUAHS
    Bom, eu sempre gosto de ler livros sobre doenças! Tem até um gênero para isso, mas nem lembra qual é. Eu acho que a Síndrome de Asperger, assim como o autismo são doenças muito peculiares e desconhecidas, com sintomas que causam estranheza e ao mesmo tempo fazem com que nós, possamos reaver os pensamentos. Eu achei tudo tão sensível, a forma da Caitlin ver o mundo que só é dela, a forma de se relacionar. Essa superação que você cita também me empolgou e eu achei tudo tocante, delicado e emocionante. Quero ler e espero amar <3

    Abraço
    Adriano
    GeraçãoLeitura.com || http://geracaoleiturapontocom.blogspot.com.br/

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    1. Huahsusha... eu tb aceito ele de presente!! Já que li em um grupo de Livro Viajante ;)

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  9. Ola Rafa lindona que barra para uma menina de 12 anos perder o irmão a quem tanto amava, lendo sua resenha vemos o quanto transborda emoções o livro. Gostei da forma que a protagonista mesmo sendo uma menina novinha irá amadurecer através da dor da perda. Comovente, já indo para minha lista ótima resenha . beijos

    Joyce
    www.livrosencantos.com

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  10. E como não amar essa Passarinha linda? Eu fiquei apaixonada pela personagem, pelo modo de ela enxergar a vida e a simplicidade com que lida com os fatos. São características inerentes à sua condição, mas que nos dão grandes lições. A autora foi merecidamente premiada. E concordo quanto ao trabalho excelente da Valentina, o livro é lindo!
    Beijinhos!
    Giulia - www.prazermechamolivro.com

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  11. Passarinha já está na minha listinha de 2015, trabalho com educação especial, e acho que esse livro vai me ajudar muito nessa caminhada cheia de preconceitos e falta de informações..

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  12. Eu ainda não li esse livro, mas só por ler a sua resenha me deu uma leve lembrança do livro O céu está em todo lugar pela tematica ser a morte de um irmão... Sua resenha está apaixonante!

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